Economia e Finanças

Como estudos sobre condições de vida influenciaram o salário mínimo no Brasil

Pesquisas pioneiras revelaram desafios econômicos e sociais das famílias operárias.

mulher em pé na rua com um cartaz escrito Salário Mínimo

Em 1934, uma equipe de pesquisadores da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo percorreu a cidade para estudar as condições de vida dos trabalhadores urbanos. O estudo revelou cenários alarmantes: famílias que não conseguiam garantir o consumo mínimo de calorias diárias e trabalhadores endividados para suprir suas necessidades básicas.

Coordenado pelo sociólogo norte-americano Horace Bancroft Davis, o levantamento destacou que 27% das famílias entrevistadas não possuíam renda suficiente para uma alimentação adequada. Esses dados influenciaram discussões sobre a implantação do salário mínimo no Brasil, uma política essencial para garantir a subsistência dos trabalhadores.

O impacto das pesquisas na legislação trabalhista brasileira

Até então, o Brasil não dispunha de mecanismos legais para assegurar um padrão mínimo de remuneração. A pressão por direitos trabalhistas crescia, especialmente nos centros urbanos, mas enfrentava forte oposição empresarial. Em 1936, uma lei estabeleceu os procedimentos para definição do salário mínimo, que apenas entrou em vigor em 1940, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas.

O estudo de Davis não foi isolado. O pernambucano Josué de Castro também investigou a fome e constatou que, em Recife, a ingestão média de calorias por trabalhador era bem inferior à observada em São Paulo. Outros pesquisadores, como Samuel Harman Lowrie, expandiram a análise ao avaliar a renda e o custo de vida dos trabalhadores do serviço público paulistano.

Salário mínimo e o impacto na economia brasileira

A fixação do salário mínimo foi um marco, mas seu impacto inicial foi limitado. A informalidade no mercado de trabalho restringiu o acesso ao benefício, especialmente no meio rural. A legislação previa revisões periódicas do valor, mas a inflação corroeu rapidamente seu poder de compra. Somente após o Plano Real (1994) e a política de valorização implementada em 2007, houve uma recuperação significativa.

Poucos tiveram acesso a esses valores, porém. A informalidade no mercado de trabalho era grande e a proteção só seria estendida efetivamente aos trabalhadores do campo nos anos 1960.

“A novidade demorou a chegar para a maioria, especialmente os mais pobres”, afirma o professor de economia Thales Zamberlan Pereira, da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP), que pesquisou as diferenças salariais entre as regiões do país no início do século XX. “Mesmo entre os operários da indústria, que eram mais organizados, as taxas de sindicalização ainda eram muito baixas nessa época, o que reduzia seu poder de barganha.”

Estudos econômicos recentes demonstram que o salário mínimo continua a ter impacto direto na distribuição de renda e na redução da desigualdade social. No entanto, o aumento dos custos previdenciários gerados pela vinculação do salário mínimo aos benefícios sociais se tornou um desafio fiscal para o governo.

A implementação do salário mínimo no Brasil foi resultado de uma série de estudos acadêmicos que revelaram a dura realidade dos trabalhadores. Embora tenha sido uma conquista histórica, sua eficiência depende de ajustes periódicos para acompanhar a inflação e as condições econômicas do país.

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