ESG
Inner Development Goals Brasil: Neurocientista da FGV torna-se embaixadora dos IDGs
A aluna é fundadora da Social Brain Sustentabilidade, a primeira consultoria brasileira dedicada ao comportamento sustentável a partir da neurociência.

Enquanto o planeta gira em alerta e os debates sobre sustentabilidade se multiplicam em fóruns, empresas e escolas, uma brasileira encontrou na ciência do cérebro uma nova maneira de se reconectar com a urgência do presente — e com o futuro que ainda pode ser redesenhado.
Trícia Simões, neurocientista e mestranda no Mestrado Profissional em Gestão para Competitividade, na área de sustentabilidade, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), acaba de se tornar embaixadora dos Inner Development Goals (IDGs), movimento global que propõe algo revolucionário em tempos de burnout, polarização e esgotamento coletivo: mudar o mundo, sim — mas começando por dentro.
Crédito da foto: Patrícia Lamarão @patricia_lamarao
“Você já parou para pensar que ninguém consegue ser criativo sentindo dor?”, provoca Trícia. “Seja uma dor física ou a dor social da exclusão, ambas ativam as mesmas áreas do nosso cérebro. E como vamos encontrar soluções sustentáveis, se as pessoas estão anestesiadas, isoladas ou sobrecarregadas emocionalmente?”
Essa é a essência do que Trícia defende. Fundadora da Social Brain Sustentabilidade, a primeira consultoria brasileira dedicada ao comportamento sustentável a partir da neurociência, ela vem pavimentando um caminho novo e ousado: unir o “S” do ESG com as descobertas mais atuais sobre o cérebro humano — e com isso transformar não só as políticas organizacionais, mas também a forma como a sustentabilidade é vivida nas empresas, nas instituições e na sociedade.
O que são os IDGs?
Lançado em 2021, o movimento Inner Development Goals (IDG) surgiu com uma pergunta provocadora: por que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU estão avançando tão lentamente? A resposta, ainda que complexa, apontou para um fator muitas vezes ignorado — o desenvolvimento humano interior.
Os IDGs propõem um framework com cinco dimensões e 23 habilidades internas, como empatia, integridade, pensamento crítico, coragem, colaboração e criatividade. São competências necessárias para que indivíduos e organizações consigam, de fato, contribuir para alcançar os ODS. Afinal, como mudar o mundo sem antes mudar a forma como pensamos, sentimos, nos relacionamos e agimos?
Hoje, o movimento já conta com mais de 800 hubs ao redor do mundo, promovendo práticas e formações sobre o desenvolvimento interior. Trícia é agora uma de suas vozes brasileiras — e, com orgulho, carrega a missão de tropicalizar essa abordagem, adaptando-a às urgências, dores e potências do nosso contexto.
Uma ponte entre ciência e transformação social
Antes de mergulhar na sustentabilidade, Trícia trilhou uma carreira sólida no mercado: foi sócia de uma corretora de commodities agrícolas e especialista em inteligência de mercado. Mas havia uma inquietação latente, um desejo de entender não apenas os dados, mas o que movia as pessoas por trás das decisões. Essa curiosidade a levou à neurociência organizacional e comportamental — e depois, inevitavelmente, à sustentabilidade das pessoas.
Antes de entrar no mestrado, Trícia escreveu o livro “Sustentabilidade de pessoas: cérebro e inclusão no ESG”, publicado em 2024. A obra traz contribuições inéditas para pensar o ESG com base nas emoções, no pertencimento e nas reações neurológicas das pessoas. “A governança fala de ética e compliance — mas o que é ética, senão comportamento? O que é decisão, senão um processo cerebral?”
A repercussão foi imediata: o trabalho foi aceito pela Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, abrindo espaço para um novo campo interdisciplinar ainda pouco explorado no Brasil.
“Eu via uma lacuna entre o que a ciência descobria e o que as empresas aplicavam no dia a dia. Esse abismo me incomodava. O mestrado entrou como um elo essencial para costurar conhecimento acadêmico e prática transformadora”, afirma Trícia.
Trícia e os IDGs: a conexão entre neurociência, sustentabilidade e a representatividade brasileira
O encontro com os IDGs aconteceu dentro da FGV, em uma simulação de negociações multilaterais da ONU, conduzida na época pelo professor Jorge Soto. Trícia apresentou seu livro, expôs suas inquietações, e ouviu uma sugestão que mudaria sua trajetória: “Você já ouviu falar nos Inner Development Goals?”
A identificação foi imediata. “Era como se tudo o que eu vinha pesquisando se encaixasse naquele framework. Foi como encontrar uma casa para as minhas ideias.” A partir dali ela mergulhou no movimento, passou por uma formação e foi aprovada como embaixadora certificada.
Como embaixadora, Trícia quer expandir a representatividade brasileira no movimento — ainda bastante concentrado em países do norte global — e construir pontes entre neurociência, cultura brasileira e práticas sustentáveis adaptadas à nossa realidade.
Ela também criou o primeiro network brasileiro de neurociência aplicada à sustentabilidade, reunindo pesquisadores e profissionais dispostos a pensar soluções sistêmicas para desafios igualmente sistêmicos.
Coragem em tempos de crise: a necessidade de colaboração e desenvolvimento interno para a sustentabilidade
Trícia acredita que o modelo atual, baseado em produtividade extrema e discursos apocalípticos, está falido. “As pessoas não querem mais ouvir que o mundo vai acabar. Isso gera paralisia. O que precisamos é de conexão, pertencimento, práticas que façam sentido. Precisamos lembrar que nós não somos parte da natureza — nós somos natureza.”
Com base nas práticas do IDG, ela reforça que desenvolver habilidades internas não é um luxo ou uma utopia espiritualizada: é uma estratégia de sobrevivência coletiva. “Hoje, é impossível pensar em sustentabilidade sem olhar para a saúde mental, para o ambiente de trabalho, para a forma como tomamos decisões.”
A boa notícia é que cada vez mais empresas e lideranças estão abrindo espaço para essa conversa. E com profissionais como Trícia à frente, o Brasil vai deixando de ser apenas um observador para se tornar um protagonista na construção de futuros mais humanos, conscientes e regenerativos.
“Desenvolvimento interno não é sobre autoajuda. É sobre responsabilidade coletiva. É sobre reconhecer que não vamos resolver crises sistêmicas com soluções simplistas. E que a colaboração — mais do que nunca — é o único caminho.”
Para saber mais sobre o curso feito por Trícia de Gestão para Competitividade da FGV EAESP, acesse o site.
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